O Potencial Econômico dos BRICS e o Impacto na Desdolarização


O Potencial Econômico dos BRICS e o Impacto na Desdolarização




Os BRICS tornaram-se bastante importantes na dinâmica económica global devido à combinação de poder económico que possuem.

POR SOFWAN F. ARRASYID
10 DE DEZEMBRO DE 2023

A economia global move-se sempre numa dinâmica em constante evolução, todos os intervenientes económicos, sejam países, grupos de países, empresas privadas multinacionais ou organizações internacionais, têm um papel significativo. Um grupo que é cada vez mais proeminente no cenário económico mundial são os BRICS: Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul. Este grupo, constituído por países com economias em rápido desenvolvimento, tem sido objecto de grande atenção no contexto da desdolarização, um afastamento da utilização dominante do dólar dos Estados Unidos no comércio internacional.

Os BRICS tornaram-se bastante importantes na dinâmica económica global devido à combinação de poder económico que possuem. Com a sua grande população, recursos naturais abundantes e rápido crescimento económico, os BRICS tornaram-se um motor do crescimento económico mundial e desempenham um papel na definição da política global. 

Uma das iniciativas importantes que empreenderam foi o fortalecimento do comércio intragrupo utilizando as respectivas moedas nacionais para reduzir a dependência do dólar americano, conhecidos como esforços de desdolarização. Isto ilustra a intenção dos países BRICS de reformar a estrutura financeira internacional que é actualmente dominada pelo dólar.

O BRICS traz um enorme potencial económico. Por exemplo, em 2022, o PIB combinado deste grupo atingirá cerca de 18,6 biliões de dólares, o que representa perto de um quarto do PIB global total. A China, como potência dominante no sector económico deste grupo, tem um papel significativo no aumento do poder de negociação dos BRICS nos assuntos económicos internacionais. No mesmo ano, só a China contribuiu com mais de 70% do crescimento do PIB dos BRICS.

O rápido crescimento económico, o grande investimento em infra-estruturas, as fortes exportações e o elevado consumo interno têm sido os principais factores que impulsionam a maior contribuição da China para o crescimento económico dos BRICS. Além disso, a China, como um dos países com o maior mercado consumidor do mundo, tem um impacto significativo nos objectivos de exportação e no crescimento económico de outros países do BRICS.

Por outro lado, a Rússia é um dos maiores produtores de energia do mundo e possui abundantes reservas de recursos naturais, especialmente petróleo e gás. Esta contribuição é importante para apoiar as necessidades energéticas globais e é um factor importante na cooperação energética entre os membros do BRICS.

A Rússia também desempenha um papel no desenvolvimento tecnológico e industrial, especialmente nos sectores da defesa, aeroespacial e da tecnologia nuclear. A Rússia tem experiência e potencial nestes sectores, o que pode dar um contributo importante para o desenvolvimento de alta tecnologia entre os países BRICS.

Além disso, a Rússia também está envolvida no reforço da cooperação comercial entre os países BRICS, incluindo nos esforços para reduzir a dependência do dólar dos EUA no comércio internacional. A Rússia apoia a diversificação monetária no comércio bilateral com os países BRICS, o que constitui um passo importante no apoio à desdolarização. 

No contexto do Novo Banco de Desenvolvimento (NDB), a Rússia também desempenha um papel na contribuição de fundos para o banco de desenvolvimento para apoiar projectos de infra-estruturas nos países membros do BRICS.

Além da China e da Rússia, a Índia também tem apresentado um crescimento constante, tornando-se um dos maiores mercados do mundo, com uma grande população e um rápido crescimento económico. Entretanto, o Brasil e a Rússia, apesar de experimentarem alguma turbulência económica, ainda têm um papel importante no sector da energia e dos recursos naturais, o que pode influenciar a dinâmica do mercado global.

Nos últimos anos, através do seu poder económico e influência, os BRICS têm colaborado para criar alternativas em termos de comércio e finanças internacionais, que podem reduzir directamente a dependência do dólar americano. Promoveram a utilização das respetivas moedas nacionais no comércio, reduziram a dependência de moedas estrangeiras e reforçaram a sua integração económica.

Um dos passos mais significativos foi a criação do Novo Banco de Desenvolvimento (NDB) pelos BRICS em 2014. O NDB visa conceder empréstimos para projectos de desenvolvimento de infra-estruturas nos países membros, bem como fora dos BRICS, utilizando moedas nacionais em vez de dólares americanos. 

Este é um passo importante na revisão da estrutura financeira internacional que tem sido dominada por instituições como o FMI e o Banco Mundial, que utilizam o dólar como moeda principal.

Segundo dados do Banco Mundial, até 2022, o comércio intra-BRICS terá atingido mais de 500 mil milhões de dólares. Embora este valor ainda esteja muito abaixo do comércio mundial, o seu crescimento constante mostra uma tendência para reduzir a dependência de moedas estrangeiras, especialmente do dólar americano.

Além disso, os esforços dos BRICS para reforçar a sua integração financeira envolveram acordos de swap cambial e a utilização de redes de pagamentos alternativas para facilitar o comércio bilateral em moedas nacionais, reduzindo a necessidade de transacções em dólares.

A redução da dependência do dólar americano tem um impacto significativo na economia global. Isto pode reduzir o impacto das flutuações da taxa de câmbio sobre o comércio e a estabilidade económica. Ao utilizar moedas nacionais no comércio, os BRICS podem proteger-se da volatilidade que pode surgir devido à política monetária dos EUA ou à turbulência no mercado global.

Além disso, o movimento no sentido da desdolarização realizado pelos BRICS também poderá desafiar a hegemonia do dólar americano em termos de política monetária, comércio internacional e reservas monetárias mundiais. Isto poderia levar à reforma de um sistema financeiro global mais equilibrado e justo, reduzindo os riscos associados à dependência excessiva de uma moeda única.

Os BRICS, com o seu enorme potencial económico, tornaram-se um motor importante para impulsionar a desdolarização. As medidas tomadas pelo grupo para aumentar o comércio intra-BRICS em moedas nacionais são um passo importante na redução da dependência do dólar americano.

Embora um afastamento importante do domínio do dólar possa não ocorrer num curto espaço de tempo, as medidas tomadas pelos BRICS deram um contributo importante para a revisão da estrutura financeira internacional, que tem estado demasiado dependente do dólar dos EUA. A longo prazo, a desdolarização que ocorrer poderá constituir um impulso para um sistema financeiro global mais estável e equilibrado.


Fonte: Diplomacia Moderna