Acordo do Ouro da Europa e Planos para uma Moeda Padrão-Ouro

 



Acordo do Ouro da Europa e Planos para uma Moeda Padrão-Ouro 



Preparativos da Europa para um retorno a um sistema monetário lastreado em ouro

Volte no tempo para o início dos anos 1970, quando uma decisão importante alterou o cenário financeiro global para sempre. À medida que os EUA desvinculavam o dólar do ouro, sinalizando o fim do sistema de Bretton Woods, a Europa embarcou em um caminho diferente — um que tem sido velado em segredo e manobras estratégicas por décadas.



Sem o conhecimento de muitos, os países europeus têm se preparado diligentemente para o retorno a um sistema monetário lastreado em ouro, combatendo a hegemonia do dólar e moldando uma nova ordem financeira equitativa.



A Europa iniciou planos secretos quando os EUA abandonaram o padrão-ouro

O início dos anos 1970 marcou um momento crucial na história do sistema financeiro global. À medida que os Estados Unidos cortavam unilateralmente o vínculo entre o dólar e o ouro, desmantelando o sistema de Bretton Woods, o mundo embarcou em uma jornada incerta em direção a um novo cenário monetário.


Em meio a essa turbulência, uma história oculta e menos conhecida estava se desenrolando nos corredores do poder na Europa. Sem o conhecimento de muitos, os países europeus não eram meros espectadores dessa grande transformação financeira — eles estavam secretamente preparando o terreno para uma mudança importante deles próprios. Por décadas, a portas fechadas, a Europa estava envolvida em preparações estratégicas para retornar a um sistema de moeda lastreado em ouro, combatendo a hegemonia do dólar e forjando uma nova ordem financeira equitativa.


Neste relato revelador, desenterramos os esforços extraordinários empreendidos pelos bancos centrais europeus, desde a equalização das reservas de ouro até a promoção da propriedade de ouro, e exploramos os sinais inconfundíveis que apontam para um retorno ao padrão-ouro. As implicações da postura bem preparada da Europa alcançam muito além de suas fronteiras, sugerindo uma transformação significativa no sistema monetário global e um aumento potencial no valor do metal precioso.


Aqui estão os fatos ocultos dos preparativos para a moeda-ouro europeia — onde o passado, o presente e o futuro colidem em uma história de poder, estratégia e a importância financeira duradoura do ouro nos cenários econômicos globais de hoje.



Principais termos e organizações referenciados nesta série de artigos:


  • Sistema de moeda fiduciária: O atual sistema monetário internacional baseado em papel-moeda não lastreado por uma mercadoria física como o ouro.
  • Padrão-ouro: Sistema monetário em que a moeda de um país está diretamente vinculada a uma quantidade específica de ouro.
  • Bretton Woods: Sistema monetário internacional estabelecido após a Segunda Guerra Mundial, onde o dólar americano estava atrelado ao ouro a US$ 35 a onça.
  • London Gold Pool: Um consórcio de oito bancos centrais ocidentais criado em 1961 para estabilizar o preço do ouro no mercado livre.
  • Comunidade Econômica Europeia (CEE): Uma organização econômica estabelecida pelo Tratado de Roma em 1957, que mais tarde evoluiu para a União Europeia (UE).
  • Acordos de Ouro dos Bancos Centrais (CBGA): Uma série de acordos assinados por bancos centrais europeus para coordenar e limitar as vendas de ouro.
  • Banco de Compensações Internacionais (BPI): Uma instituição financeira internacional que atua como banco para bancos centrais.
  • Direito Especial de Saque (DSE): Um ativo de reserva emitido pelo Fundo Monetário Internacional (FMI).
  • Shanghai Gold Exchange (SGE): A maior bolsa de ouro física do mundo, com sede na China.
  • Sistema Monetário Europeu (SME): Um sistema lançado em 1979 pelos países europeus para estabilizar as taxas de câmbio e abrir caminho para o Eurosistema.
  • Eurosistema: Autoridade monetária dos países da zona do euro responsável pela política monetária e pela emissão da moeda euro.
  • Banco Central da Hungria (MNB): O banco central da Hungria responsável pela política monetária e emissão de moeda.
  • Banco Central da Polônia (NBP): O banco central da Polônia responsável pela política monetária e emissão de moeda.
  • Banco Central da Itália: O banco central da Itália responsável pela política monetária e emissão de moeda.
  • Banque de France: Banco central da França responsável pela política monetária e emissão de moeda.
  • Deutsche Bundesbank: Banco central da Alemanha responsável pela política monetária e emissão de moeda.
  • Banco Nacional da Romênia (BNR): O banco central da Romênia responsável pela política monetária e emissão de moeda.
  • Banco da Inglaterra: Banco central do Reino Unido responsável pela política monetária e emissão de moeda.
  • Banco do Japão: Banco central do Japão responsável pela política monetária e emissão de moeda.
  • Fórum Financeiro Internacional (IFF): Uma organização internacional com foco em questões financeiras globais.


Início da década de 1970: O fim do padrão-ouro do dólar americano e as reações europeias

Em 1971, os Estados Unidos encerraram oficialmente o padrão-ouro, marcando o fim do sistema monetário internacional de Bretton Woods. O dólar americano, anteriormente lastreado em ouro a uma paridade fixa de US$ 35 por onça, foi transformado em uma moeda fiduciária pura. Os bancos centrais europeus se viram em uma posição desafiadora, forçados a seguir a hegemonia do dólar devido às circunstâncias prevalecentes. No entanto, o sentimento na Europa era de combater o domínio do dólar e gradualmente se preparar para um novo arranjo monetário que incorporasse o ouro.



Bretton Woods e a London Gold Pool

Após a Segunda Guerra Mundial, o sistema monetário internacional de Bretton Woods foi estabelecido, com o dólar americano designado como moeda de reserva mundial, lastreado em ouro a US$ 35 por onça. Sob esse sistema, os países participantes concordaram em atrelar suas moedas ao dólar americano, criando um padrão de câmbio ouro. Para estabilizar o preço do ouro no mercado livre a US$ 35 por onça, um consórcio de oito bancos centrais ocidentais criou o London Gold Pool em 1961. No entanto, a França, crítica da política monetária dos EUA, repetidamente resgatou dólares por ouro no Tesouro dos EUA, levando ao esgotamento das reservas de ouro dos EUA.


O colapso do pool de ouro de Londres e o mercado de ouro de dois níveis

À medida que a pressão sobre o dólar aumentou entre 1965 e 1968, o London Gold Pool teve que fornecer quantidades substanciais de ouro para manter a paridade. Os banqueiros centrais europeus começaram a considerar maneiras de sair do acordo do Pool, pois não queriam defender indefinidamente a paridade, o que foi causado principalmente pelas políticas monetárias dos EUA.

Consequentemente, em 15 de março de 1968, o London Gold Pool encerrou suas operações, e o preço do ouro no mercado livre foi autorizado a flutuar. Esse desenvolvimento levou ao surgimento de um "mercado de ouro de dois níveis", no qual os bancos centrais continuaram negociando ouro entre si a US$ 35 a onça, mas se abstiveram de comprar e vender no mercado livre.

O que era o Mercado de Ouro de Duas Camadas?


  • O mercado de ouro de dois níveis se refere a um sistema no qual há dois mercados distintos para ouro com diferentes mecanismos de precificação. Este sistema foi introduzido no final da década de 1960 como uma resposta aos desafios enfrentados pelo sistema monetário de Bretton Woods, que era baseado na taxa de câmbio fixa do dólar americano para o ouro.

  • Sob o sistema de Bretton Woods, o dólar americano foi oficialmente atrelado ao ouro a uma taxa fixa de US$ 35 por onça, e outros países participantes se comprometeram a atrelar suas moedas ao dólar americano. No entanto, como os EUA imprimiram e exportaram mais dólares do que tinham reservas de ouro para apoiá-los, os bancos centrais estrangeiros começaram a resgatar seus dólares por ouro do Tesouro dos EUA. Isso levou ao esgotamento das reservas de ouro dos EUA e levantou preocupações sobre a sustentabilidade do preço do ouro de US$ 35 por onça.

  • Para resolver esse problema, um mercado de ouro de dois níveis foi estabelecido em 1968. No primeiro nível, os bancos centrais continuaram a negociar ouro entre si à taxa fixa de US$ 35 por onça. Esse arranjo permitiu que os bancos centrais liquidassem transações internacionais e mantivessem alguma estabilidade no mercado de ouro.

  • O segundo nível, por outro lado, permitia que o ouro fosse negociado livremente no mercado aberto, onde seu preço era determinado pelas forças de mercado de oferta e demanda. Esse preço impulsionado pelo mercado era frequentemente mais alto do que a taxa fixa oficial de US$ 35 por onça. Os bancos centrais concordaram em não comprar ou vender ouro nesse mercado livre para evitar a interrupção da taxa de câmbio fixa oficial.

  • O mercado de ouro de dois níveis permitiu que os bancos centrais administrassem suas reservas de ouro de forma mais flexível, ao mesmo tempo em que aderiam ao sistema de Bretton Woods. No entanto, à medida que as pressões sobre o dólar continuavam a aumentar, o sistema acabou se mostrando insustentável. Em 1971, os EUA decidiram unilateralmente suspender a conversibilidade do dólar em ouro, efetivamente encerrando o sistema de Bretton Woods e o mercado de ouro de dois níveis. Este evento marcou o início da era das moedas fiduciárias e a mudança gradual do padrão-ouro no sistema monetário internacional.


Decisão dos EUA de pôr fim a Bretton Woods e a resposta da Europa

No início de agosto de 1971, a decisão da França de trocar dólares por ouro enviando um navio de guerra para Nova York sinalizou preocupações contínuas sobre o valor do dólar. Poucos dias depois, em 15 de agosto de 1971, os Estados Unidos decidiram unilateralmente acabar com Bretton Woods suspendendo a conversibilidade do dólar em ouro. Essa decisão levou a um conflito diplomático significativo entre a Europa, o Japão e outros países, pois suas reservas em dólares não eram mais lastreadas em ouro.



Os esforços dos EUA para substituir o ouro por títulos do Tesouro

Desde a década de 1960, os EUA vinham encorajando bancos centrais estrangeiros a reinvestir suas reservas em dólares em títulos do governo dos EUA (Treasuries) em vez de resgatá-los por ouro. Essa estratégia visava substituir o ouro por Treasuries no sistema monetário internacional, permitindo que os EUA continuassem imprimindo dinheiro para importações e financiando déficits fiscais. No entanto, esse movimento não foi visto como um sistema equitativo pelos bancos centrais europeus.



A criação do euro para combater o domínio do dólar

Para combater o domínio do dólar e fornecer uma alternativa ao dólar americano como moeda de reserva global, a Europa embarcou em um caminho em direção à integração. O Tratado de Roma em 1957 deu origem à Comunidade Econômica Europeia (CEE), marcando o primeiro passo na integração europeia. O euro, mais tarde introduzido como moeda comum, foi concebido como um meio de desafiar a hegemonia do dólar e criar um sistema monetário internacional mais equilibrado.


A partir dos eventos descritos aqui na Parte 1, fica evidente que a Europa vem se preparando diligentemente para um retorno a um sistema de moeda lastreado em ouro desde a década de 1970. Os bancos centrais europeus tomaram medidas cuidadosas e graduais para pavimentar o caminho para um novo sistema monetário baseado em ouro, sinalizando sua intenção de se afastar do atual sistema monetário internacional fiduciário. A parte subsequente deste relatório se aprofundará nas medidas específicas tomadas pelos bancos centrais europeus para se preparar para essa transição e analisar suas potenciais implicações para o cenário financeiro global.




Desclassificado: A Batalha pela Supremacia Econômica – Europa vs. Estados Unidos


No início dos anos 1970, um ponto de virada crucial no cenário econômico global estava se desenrolando quando os Estados Unidos, sob a administração Nixon, decidiram abandonar o padrão-ouro. O Conselheiro de Segurança Nacional dos EUA, Henry Kissinger, e o Secretário Adjunto do Tesouro, William Simon, estavam na vanguarda das discussões que moldavam a posição dos EUA sobre o sistema monetário internacional.


Kissinger, em um telefonema com Simon em 14 de março de 1973, revelou suas preocupações sobre um sistema monetário europeu unificado, temendo que desafiasse o domínio do dólar. Ele declarou: "Eu basicamente tenho apenas uma visão agora, que é fazer o máximo que pudermos para impedir uma posição europeia unida sem mostrar nossa mão... Eu não acho que um sistema monetário europeu unificado seja do nosso interesse."


A solução europeia, que visava fixar as taxas de câmbio das moedas da Comunidade Econômica Europeia (CEE) e flutuar como um bloco em relação ao dólar, foi percebida como um movimento para deixar os Estados Unidos fora da equação financeira global. O relatório de inteligência de Kissinger sobre as discussões no Gabinete Alemão alimentou ainda mais sua determinação de impedir que a Europa unificasse seu sistema monetário.


No entanto, a CEE estava determinada a afirmar sua independência econômica e unidade. A CEE declarou publicamente seu comprometimento com a reforma monetária internacional que consideraria os interesses dos países em desenvolvimento. O presidente francês Georges Pompidou enfatizou que múltiplos centros de poder econômico e político trariam estabilidade ao mundo. Ele disse em uma reunião com o presidente dos EUA Richard Nixon em 1970, “O poder assim estabelecido nunca dura muito. A existência de mais centros de poder econômico e político torna as coisas mais complicadas, mas a longo prazo tem maiores vantagens.”


Os EUA se opuseram ao fim do mercado de ouro de dois níveis, que permitia que os bancos centrais comprassem e vendessem ouro entre si a um preço fixo enquanto o preço do mercado livre flutuava. Eliminar o ouro do sistema monetário internacional era uma prioridade para os EUA, visando manter o controle e minimizar a influência de outros países, particularmente aqueles na Europa Ocidental, que detinham reservas substanciais de ouro.


Em uma reunião crítica em 1974, o Secretário de Estado Henry Kissinger discutiu a proposta da CE de reavaliar o ouro e criar uma Moeda Padrão-Ouro Europeia. Arthur Burns, Presidente do Federal Reserve, e Henry Wallich, um especialista em relações internacionais, opinaram sobre o assunto, revelando a determinação dos EUA em impedir que o ouro recuperasse sua posição como a peça central do sistema financeiro global.


Henry Wallich expressou sua opinião de que a proposta europeia resultaria em colocar o ouro de volta no sistema a um preço mais alto, dizendo: “Acho que provavelmente sim. A questão é: suponha que eles sigam em frente por conta própria de qualquer maneira. E então?”

Kissinger ecoou a oposição dos EUA, afirmando: “Meu instinto é me opor a isso. Qual é sua opinião, Ken?”, ao que Ken Rush, Secretário Adjunto do Tesouro dos Estados Unidos de 1972 a 1973, respondeu: “Bem, acho que provavelmente sim. A questão é: suponha que eles sigam em frente por conta própria de qualquer maneira. E então?”




Os EUA temiam que o controle da Europa sobre uma grande parte das reservas de ouro do mundo lhes daria alavancagem sobre questões monetárias internacionais. William Simon, Secretário do Tesouro dos EUA de 1974 a 1977, argumentou: "Se eles têm o instrumento de criação de reservas, por terem a maior quantidade de ouro e a capacidade de mudar seu preço periodicamente, eles têm uma posição relativa à nossa de poder considerável."


Em face da determinação da Europa em desafiar a hegemonia do dólar e promover um sistema monetário equitativo, os EUA permaneceram firmes em sua oposição a qualquer movimento que restabelecesse a proeminência do ouro. A batalha pelo controle da ordem financeira global continuou, com o resultado tendo implicações de longo alcance para a estabilidade e a dinâmica de poder da economia mundial. A luta entre a Europa e os Estados Unidos estava longe de terminar, e o caminho para um novo sistema monetário baseado no ouro provaria ser uma jornada intrincada e contenciosa.