COMPUTADOR COM NEURÔNIOS HUMANOS: HIBRIDIZANDO VIDA E SILÍCIO:

 





COMPUTADOR COM NEURÔNIOS HUMANOS: HIBRIDIZANDO VIDA E SILÍCIO:


No ano passado, cientistas da empresa australiana Cortical Labs anunciaram o lançamento do CL1, descrito como o primeiro computador comercial a utilizar neurônios humanos vivos cultivados em laboratório integrados a hardware de silício.  Nesse sistema, as células cerebrais crescem sobre um “biochip”, onde microeletrodos estimulam e monitoram a atividade neural; os neurônios recebem nutrientes, controle de temperatura e demais condições vitais para sobreviverem por até seis meses. 


A promessa da “computação biológica”, ou “wetware”, é impressionante: segundo os desenvolvedores, redes neurais vivas consomem bem menos energia e teriam uma eficiência adaptativa superior a chips tradicionais, abrindo caminho para avanços em IA, neurociência e tratamentos médicos.  Além disso, há quem credite a esses sistemas a capacidade de aprender e reagir de maneira mais próxima da cognição orgânica do que algoritmos binários comuns. 


Mas, e aqui entra a questão perturbadora, ao dar “vida” a máquinas, estamos literalmente brincando de Deus: transformando neurônios humanos, matéria viva, em ferramentas de processamento e manipulação de dados. Isso não levanta apenas um dilema técnico, mas ético, existencial e social. 

Se células cerebrais humanas podem ser conectadas a chips e programadas para reagir, aprender e se adaptar, onde termina o “computador” e começa algo que se aproxima de um cérebro? E se essa tecnologia escapar do controle de laboratórios? Quem garante que essas inteligências biológicas não serão usadas como mecanismos de poder, ferramentas para controlar, manipular ou experimentar com “vida pensante”?


Tal perspectiva remete à ideia de uma “nova ordem tecnocrática”: corpos biológicos desumanizados reduzidos a peças de hardware potente, combinando a maleabilidade da tecnologia com o poder bruto da biologia. A noção de consciência, identidade ou sofrimento, nesse contexto, pode se tornar irrelevante, para quem detém o controle da “fábrica de cérebros”.

---