Ouro e as grandes redefinições monetárias americanas de 1792 até hoje



Ouro e as grandes redefinições monetárias americanas de 1792 até hoje


Ouro e as Grandes Redefinições Monetárias Americanas: De 1792 até Hoje

Por  Nick Giambruno

O ouro está no centro do sistema monetário dos EUA desde a fundação do país, evoluindo de uma âncora direta para o dólar para um ativo de reserva estratégico.

Embora não respalde mais o dólar, o ouro continua sendo a pedra angular das reservas dos bancos centrais, uma força discreta, mas poderosa nas finanças globais.

Ao longo da história americana, as redefinições monetárias têm sido um tema recorrente — e, na maioria das vezes, elas giram em torno do ouro, porque ouro é dinheiro.

Compreender essa história não se refere apenas ao passado, mas também ao futuro. E se a história serve de guia, outra reinicialização pode estar chegando mais cedo do que a maioria espera.

1775: Continentais e a Revolução Americana

Antes da Revolução, as moedas de ouro e prata eram a espinha dorsal do comércio nas colônias americanas.

Quando a guerra eclodiu, o Congresso Continental não tinha autoridade para cobrar impostos, forçando-os a buscar uma forma alternativa de financiar a guerra.

Em 1775, o Congresso começou a emitir a "Moeda Continental" — o primeiro papel-moeda fiduciário da história dos EUA. Essas notas, conhecidas como "Continentais", deveriam ser resgatáveis ​​em ouro e prata após a guerra, mas essa promessa carecia de credibilidade.

Os continentais rapidamente se tornaram inúteis em meio à hiperinflação. A expressão "Não vale um Continental" tornou-se sinônimo de inutilidade.

Em 1781, as moedas continentais haviam perdido mais de 99% de seu valor, e o governo dos EUA as abandonou efetivamente, deixando os detentores com perdas enormes.

Este desastre aprofundou a desconfiança no dinheiro fiduciário e consolidou a crença entre os Fundadores de que o ouro e a prata deveriam ser a base de qualquer sistema monetário estável.

1792: A Lei da Moeda e o Nascimento do Sistema Monetário dos EUA

Após o fracasso desastroso da Moeda Continental, a Lei da Moeda de 1792 criou o primeiro sistema monetário oficial dos EUA, garantindo estabilidade ao vincular o dólar ao ouro e à prata.

O ouro foi fixado em US$ 19,39 a onça, enquanto a prata também era moeda com curso legal.

Os fundadores pretendiam evitar outro colapso ao estilo continental ancorando a moeda ao dinheiro forte.

O Primeiro Banco dos Estados Unidos (1791–1811)

O Primeiro Banco dos Estados Unidos, o primeiro banco central do país, foi estabelecido sob a liderança de Alexander Hamilton para estabilizar a economia, emitir uma moeda nacional lastreada em ouro e prata e administrar depósitos federais.

No entanto, rapidamente se tornou um ponto crítico político, enfrentando forte oposição de Thomas Jefferson e defensores dos direitos dos estados, que temiam que concentrasse muito poder financeiro nas mãos do governo federal.

Quando o estatuto de 20 anos do banco expirou em 1811, o Congresso se recusou a renová-lo.

O Segundo Banco dos Estados Unidos (1816–1836)

Após o caos financeiro após a Guerra de 1812, os EUA estabeleceram outro banco central, o Segundo Banco dos Estados Unidos, em 1816.

Assim como seu antecessor, ele foi criado para regular o crédito, estabilizar a moeda e manter depósitos federais.

No entanto, rapidamente se tornou um pára-raios político, principalmente sob o presidente Andrew Jackson, que o via como uma instituição que servia aos interesses da elite às custas dos americanos comuns.

Jackson vetou sua nova carta constitutiva em 1832, travou uma campanha bem-sucedida contra ela e, por fim, desmantelou o banco em 1836.

1834: Primeira grande mudança de preço (US$ 20,67 por onça)

A Lei de Cunhagem de 1834 aumentou oficialmente o preço do ouro para US$ 20,67 por onça, desvalorizando efetivamente o dólar americano (já que mais dólares eram necessários para comprar uma onça de ouro).

O preço do ouro de US$ 20,67 a onça permaneceu inalterado por quase um século até a intervenção de FDR em 1933.

1862: As Notas Verdes de Lincoln – O Experimento da Moeda Fiat na Guerra Civil

Durante a Guerra Civil Americana (1861-1865), o presidente Abraham Lincoln introduziu uma moeda fiduciária conhecida como "Verdinhas" para financiar o esforço de guerra. Isso marcou um grande afastamento do sistema baseado em ouro e prata que definia o dinheiro americano.

A guerra exigiu enormes recursos financeiros, mas o governo não tinha reservas de ouro e prata suficientes para cobrir os custos. Os empréstimos tradicionais por meio da venda de títulos se mostraram insuficientes, e os formuladores de políticas relutaram em impor impostos pesados ​​ao público. Em resposta, o Congresso aprovou a Lei de Curso Legal de 1862, autorizando a emissão de papel-moeda não lastreado em ouro ou prata — essas notas ficaram conhecidas como "Greenbacks" devido à sua cor característica.

Embora as notas verdes permitissem ao governo financiar a guerra, elas não eram lastreadas por ativos tangíveis, o que levou à desvalorização da moeda. Após a guerra, os EUA tomaram medidas para restaurar a confiança no sistema monetário e retornar ao padrão lastreado em ouro.

Em 1869, foi aprovada a Lei de Crédito Público, prometendo que as notas verdes seriam eventualmente resgatáveis ​​em ouro, tranquilizando os credores. Em seguida, foi aprovada a Lei de Retomada de Pagamentos em Espécie de 1875, que determinou que, até 1879, as notas verdes seriam novamente conversíveis em ouro. Nessa época, os EUA já haviam reduzido o número de notas verdes em circulação, retornando com sucesso a um sistema monetário baseado em ouro e encerrando seu status fiduciário.

Embora os dólares fossem uma moeda fiduciária temporária, seu distanciamento do ouro prenunciava futuras mudanças monetárias.

1913: Lei do Federal Reserve

A criação do Federal Reserve — o terceiro banco central do país — marcou uma mudança significativa em direção ao controle centralizado sobre o sistema monetário dos EUA.

Embora o ouro permanecesse parte do sistema, a capacidade do Federal Reserve de expandir o crédito além das reservas físicas de ouro enfraqueceu o papel direto do ouro no sistema monetário. Essa mudança preparou o cenário para futuras intervenções monetárias, políticas inflacionárias e o eventual abandono da conversibilidade do ouro em 1971.

1933: Confisco de Ouro de FDR (Ordem Executiva 6102)

Em 1933, o presidente Franklin D. Roosevelt (FDR) emitiu a Ordem Executiva 6102, obrigando os americanos a entregar suas moedas e barras de ouro ao Tesouro dos EUA. Essa medida visava dar ao governo maior controle sobre a oferta monetária e combater a deflação durante a Grande Depressão.

Os cidadãos recebiam US$ 20,67 por onça de ouro, mas logo depois, o governo reavaliou o ouro para US$ 35 por onça, desvalorizando efetivamente o dólar em 41%. A mudança permitiu que o governo imprimisse mais dólares sem aumentar as reservas de ouro.

Em um discurso de rádio nacional em 22 de outubro de 1933, Roosevelt justificou a decisão, declarando:

“Os Estados Unidos devem assumir firmemente em suas mãos o controle do valor do nosso dólar.”

A posse de ouro foi proibida para cidadãos privados até 1974, e grande parte do ouro do país estava centralizada em Fort Knox. Isso marcou um passo decisivo no controle governamental mais rigoroso sobre o sistema monetário.

1944: O Acordo de Bretton Woods – O dólar se torna a moeda de reserva global

Foi corretamente dito que “aquele que detém o ouro faz as regras”.

Após a Segunda Guerra Mundial, os EUA detinham, de longe, as maiores reservas de ouro do mundo. Além de vencer a guerra, isso permitiu aos EUA reconstruir o sistema monetário global em torno do dólar.

O novo sistema, criado na Conferência de Bretton Woods em 1944, atrelava as moedas de praticamente todos os países do mundo ao dólar americano por meio de uma taxa de câmbio fixa. Também atrelava o dólar americano ao ouro a uma taxa fixa de US$ 35 por onça.

Entretanto, o Acordo de Bretton Woods estava fadado ao fracasso.

Gastos descontrolados com guerra e assistência social acabaram fazendo com que o governo dos EUA imprimisse mais dólares do que poderia garantir com ouro ao preço prometido de US$ 35.

1971: Nixon encerra a conversibilidade do ouro ("Choque Nixon").

No final da década de 1960, o número de dólares em circulação havia aumentado drasticamente em relação à quantidade de ouro que os lastreava. Isso encorajou países estrangeiros a trocar seus dólares por ouro, drenando o suprimento de ouro dos EUA a um ritmo alarmante.

Como resultado, o fornecimento de ouro dos EUA caiu mais da metade, de 574 milhões de onças troy no final da Segunda Guerra Mundial para cerca de 261 milhões de onças troy em 1971.

A situação pressionou o governo dos EUA a tomar uma decisão drástica.

Poderia não fazer nada e assistir à evaporação de suas reservas em ouro, o que significaria perder enorme poder financeiro e geopolítico. Ou poderia deixar de cumprir sua promessa de trocar o dólar por ouro.

Na noite de domingo, 15 de agosto de 1971, o presidente Nixon interrompeu os programas de TV programados e fez um anúncio surpresa para a nação — e para o mundo.

Nixon disse que estava suspendendo temporariamente a conversibilidade do dólar em ouro.

A mentira mais óbvia foi a afirmação de Nixon de que a suspensão seria apenas "temporária". Ela ainda está em vigor hoje.

Outra mentira flagrante foi que sua ação era necessária para proteger os americanos de especuladores internacionais. Em vez disso, a impressão de dinheiro para financiar gastos governamentais descontrolados era o verdadeiro problema.

Por fim, Nixon afirmou que a remoção do vínculo com o ouro estabilizaria o dólar. No entanto, mesmo segundo as estatísticas de inflação manipuladas do próprio governo, que subestimam a realidade, o dólar americano perdeu mais de 87% de seu poder de compra desde 1971.

A verdade é que Nixon não cumpriu a promessa do governo americano de resgatar o dólar por ouro a US$ 35 a onça. Desde então, o dólar tem sido uma moeda fiduciária pura, sem lastro.

1972 – O Acordo Smithsoniano ajusta o preço do ouro para US$ 38.

Após o choque de Nixon, líderes mundiais se reuniram em dezembro de 1971 para tentar estabilizar o sistema monetário internacional. O Acordo Smithsoniano tentou:

  • Aumentar o preço oficial do ouro de US$ 35 para US$ 38 a onça, desvalorizando efetivamente o dólar em 8,5%.
  • Permitir que as principais moedas flutuem dentro de uma faixa de 2,25% em vez de serem estritamente fixas.

Entretanto, a confiança no dólar continuou a diminuir, e o acordo entrou em colapso em 1973, abrindo caminho para o moderno sistema de taxa de câmbio flutuante, em que o ouro seria negociado livremente no mercado aberto.

1973: O dólar americano e o ouro flutuam oficialmente

Após várias tentativas de estabilizar as taxas de câmbio — incluindo o Acordo Smithsoniano (1971) — as principais moedas fizeram a transição para um sistema de flutuação livre no início de 1973, permitindo que as taxas de câmbio flutuassem com base nas forças do mercado.

Com a contínua desvalorização do dólar americano, outra desvalorização oficial ocorreu em fevereiro de 1973, elevando o preço oficial do ouro de US$ 38 para US$ 42,22 a onça. Isso representou uma desvalorização total de 20,7% em comparação com a paridade original de US$ 35 estabelecida pelo Tratado de Bretton Woods.

Entretanto, apesar desses ajustes, ficou claro que os EUA não podiam mais controlar o valor do ouro nos mercados globais.

Em março de 1973, o Acordo Smithsoniano entrou em colapso e as principais moedas — incluindo o dólar americano — adotaram um sistema de câmbio totalmente flutuante. Isso marcou o fim do controle governamental sobre o preço do ouro, uma vez que os EUA deixaram de fixar um preço oficial. O ouro passou a ser negociado livremente no mercado aberto, e seu preço passou a ser determinado pela oferta e demanda, e não por decreto governamental.

Embora 15 de agosto de 1971 tenha marcado o fim da conversibilidade do ouro sob o Choque de Nixon, os EUA ainda tentaram manter um preço oficial do ouro sob o Acordo Smithsoniano. No entanto, esse sistema acabou fracassando.

O ouro começou oficialmente a ser negociado livremente em março de 1973, quando o sistema de câmbio flutuante foi adotado, permitindo que o mercado definisse o valor do ouro de forma independente pela primeira vez desde a fundação do país.

Abaixo está um gráfico que descreve a história de 181 anos do papel oficial do ouro no sistema monetário dos EUA — da Lei da Moeda de 1792 a 1973.

Cada ajuste no preço do ouro marca um evento raro, mas significativo, refletindo desvalorizações do dólar e grandes redefinições monetárias que remodelaram o sistema financeiro.


A ascensão do ouro como um ativo financeiro (1973–presente)

Antes da adoção de um padrão monetário fiduciário após o fim de Bretton Woods, o ouro foi a forma de dinheiro mais duradoura da humanidade — por mais de 5.000 anos — devido às características únicas que o tornaram mais adequado para armazenar e trocar valor.

O ouro é durável, divisível, consistente, conveniente, escasso e, o mais importante, a mais “dura” de todas as mercadorias físicas.

Em outras palavras, o ouro é a mercadoria física que é “mais difícil de produzir” (em relação aos estoques existentes) e, portanto, a mais resistente à desvalorização.

O ouro é indestrutível e seus estoques se acumularam ao longo de milhares de anos. Essa é uma das principais razões pelas quais o crescimento da nova oferta de ouro — normalmente de 1% a 2% ao ano — é insignificante.

Em outras palavras, ninguém pode inflar arbitrariamente a oferta.

Isso faz do ouro uma excelente reserva de valor e dá ao metal amarelo suas propriedades monetárias superiores.

Pessoas em todos os países do mundo valorizam o ouro. Seu valor não depende de nenhum governo ou contraparte. O ouro sempre foi um ativo inerentemente internacional e politicamente neutro. É por isso que diferentes civilizações ao redor do mundo o utilizam como moeda há milênios.

Mas a maioria das pessoas não entende isso.

Eles podem dizer que os dólares de papel em suas carteiras e os dólares digitais em suas contas bancárias são dinheiro, não ouro. Mas isso só acontece desde 1971, uma gota no oceano em termos históricos.

O colapso do sistema de Bretton Woods em 1971 foi um ponto de inflexão, rompendo a ligação do ouro com o dólar e transformando-o de uma âncora monetária fixa em um ativo financeiro livremente negociado. Mesmo não sendo mais moeda com curso legal, o ouro manteve seu status de reserva de valor, na qual governos, bancos centrais e investidores do mundo todo confiam. Seu papel como proteção contra inflação, desvalorização cambial e instabilidade econômica só se fortaleceu ao longo do tempo.

Apesar de abandonar o padrão-ouro, os bancos centrais continuam a manter e acumular ouro, reconhecendo sua importância como um ativo financeiro.

É isso que torna o ouro fundamentalmente diferente de outras commodities, como trigo, cobre ou petróleo. Enquanto esses bens são consumidos, o ouro é mantido principalmente como um ativo financeiro, tornando seu preço um indicador crítico da estabilidade econômica global, da força da moeda e da credibilidade da política monetária.

O preço do ouro é um barômetro do próprio sistema monetário fiduciário. É uma medida em tempo real da confiança (ou falta dela) no sistema monetário, pois é uma alternativa de livre mercado ao dinheiro emitido pelo governo.

Ao longo da história, todas as grandes redefinições monetárias nos Estados Unidos giraram em torno do ouro — desde a Lei da Moeda de 1792, passando pelo confisco do ouro de FDR em 1933, até o colapso de Bretton Woods em 1971. Em todas as vezes, o dólar foi desvalorizado, e o ouro desempenhou um papel central na reformulação do sistema financeiro.

Isso não é coincidência: o ouro tem sido a forma de dinheiro mais duradoura da humanidade por milhares de anos, tornando natural que ele desempenhe um papel central em qualquer grande mudança monetária.

Hoje, as condições são propícias para uma redefinição monetária nos EUA, e a história deixa poucas dúvidas: o ouro estará novamente no centro disso. Se redefinições anteriores servirem de indicação, uma desvalorização significativa do dólar não é apenas possível, mas praticamente inevitável.

O secretário do Tesouro de Trump, Scott Bessent, praticamente confirmou que uma redefinição monetária é iminente quando declarou recentemente:

“Estamos no meio de um grande realinhamento, um realinhamento de Bretton Woods em termos de política global, comércio global... Eu gostaria de fazer parte disso, seja por dentro ou por fora.”

O cenário está montado. A história mostra que todas as grandes redefinições monetárias dos EUA giraram em torno do ouro — e 2025 pode ser o próximo. Com a dívida explodindo, o dólar supervalorizado e o ouro fluindo silenciosamente para os cofres americanos, a previsão é clara.

O que acontecer depois pode mudar tudo.

Fonte: International Man